Artigos

Reflexos da ausência de Educação Financeira no Brasil, por Brenda Campos

A cultura da educação financeira no Brasil é um aspecto relativamente recente e ainda pouco explorado. O país enfrenta um histórico de níveis elevados de endividamento, com 77,9% da população registrando tal situação, de acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (ABDALA, 2023).

No entanto, nas últimas duas décadas, tem havido um interesse crescente em promover e democratizar o acesso ao conhecimento financeiro e compreender o seu impacto no futuro. Na virada dos anos 1990, diante do alto endividamento, da inflação persistente, do baixo crescimento econômico, da desigualdade de renda e de uma grande dívida externa, surgiu uma conscientização mais acentuada da necessidade de tornar esse tema mais acessível.

Foi somente a partir de 2003 que o Ministério da Educação (MEC) instituiu o Programa Nacional de Educação Financeira (PNEF), que buscou abordar a inclusão social e o desenvolvimento sustentável por meio da educação financeira, incorporando-a ao currículo escolar. Em 2010, o Comitê Nacional de Educação Financeira (CONEF), composto por instituições de alto escalonamento, como o Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários e a Superintendência de Seguros Privados, foi criado com o objetivo de coordenar ações e promover parcerias entre os diversos agentes envolvidos na educação financeira no país.

Em 2013, foi sancionada a Lei nº 12.741, incluindo o conteúdo de educação financeira no currículo escolar do ensino fundamental e médio. Isso representou um marco importante na integração do tema à educação formal.

Desde então, houve um esforço contínuo para promover a educação financeira no Brasil, disseminar conhecimentos sobre finanças pessoais e fomentar uma reflexão crítica sobre o consumo excessivo e o endividamento preocupante.

No entanto, é importante ressaltar que, apesar dos avanços, a educação financeira no Brasil ainda está em estágios iniciais e é significativamente menos desenvolvida em comparação com países como os Estados Unidos. Muitos brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza, o que dificulta o acesso não apenas à educação básica, mas também à educação financeira. Portanto, é crucial continuar investindo em programas que visem ao bem-estar da população e à promoção da educação financeira como um componente fundamental para a construção de um futuro mais seguro e sustentável.

 

Nos últimos anos, observa-se o alto índice de endividamento das famílias brasileiras e parte disso é o reflexo que a falta de educação financeira faz. Já que o relacionamento saudável com o dinheiro, desde a infância até a construção da vida adulta não é priorizada nos meios educacionais. Um exemplo vitalício sobre isso, é o cartão de crédito, sendo o fator primário dessa ausência, liderando com 79,5%. Em seguida, dívidas por carnês, com 15,5% e financiamento de carro em terceiro lugar com 9,7% (FERNANDES, 2019).

 

O Planejamento Financeiro Pessoal e Familiar tem como objetivo auxiliar a criar uma estratégia precisa para acumulação de bens e valores que irão formar o patrimônio de uma pessoa ou de uma família, ajudando-as a arquitetar um Projeto de Vida para a conquista de etapas importantes da vida como acumular recursos para a faculdade dos filhos, para a compra de imóveis, para a tão sonhada aposentadoria, para iniciar um negócio próprio ou proteger sua família contra eventualidades. (PICCINI (2014, p. 36).

O nível de endividamento é impulsionado pela facilidade do estímulo aos gastos compulsórios por parte dos incentivos, tais como facilidade ao crédito. A necessidade de adquirir novos bens de consumo motiva as pessoas a se individualizar cada vez mais, transformando-se em um desafio de caráter social na chamada “sociedade do consumo”. O trabalho de estratégias de planejamento financeiro alinhado as reais necessidades familiares ajudam na definição de objetivos de consumo, impedindo, desse modo, que as escolhas sejam influenciadas por impulsos imediatos. O estímulo ao consumo é o fator primordial subjacente ao individualismo de alguns indivíduos (FERNANDES, 2019).

Um dos principais temas de discussão na economia atual envolve a conexão entre economia e investimento. A prova que a produção econômica de longo prazo de um país está intimamente ligada à quantidade de economia que é gerada para sustentar a expansão de ativos produtivos, incluindo investimentos em infraestrutura e outros elementos que podem aumentar a eficiência e fortalecer a economia.

 

A Figura 2 revela que a série em curso do Sistema de Contas Nacionais – Referência 2010 exibiu uma taxa de poupança doméstica em relação ao PIB superior à série anterior do SCN-2000 (Sistema de Contas Nacionais) durante todo o período em que ambas coincidem, ou seja, de 2010 a 2014. Embora as trajetórias diferentes sejam, ambas as séries indicam uma redução na taxa de poupança entre esses anos.

Por outro lado, 8 anos depois, ainda se sente os impactos dos baixos investimentos no Brasil em relação aos países da América Latina e Caribe, de acordo com informações divulgadas pelo Banco Mundial, as contribuições nacionais equivalem a apenas 1% do PIB (Produto Interno Bruto) (FERRARI,

2023).

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores), solicitou à equipe econômica liderada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que desenvolvesse uma norma fiscal que incorporasse o aumento dos recursos alocados para investimentos públicos.

Embora o governo tenha anunciado uma proposta, ela ainda não foi submetida ao Congresso Nacional. É importante observar que os investimentos públicos fazem parte das despesas discricionárias, que são sujeitos a possíveis cortes no Orçamento e representam menos de 10% do total das despesas públicas em um ano (FERRARI, 2023)

 

 

 

***Trecho extraído da monografia “Educação Financeira no Brasil”, apresentada por Brenda Campos, no Curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário de Bauru, sob a orientação do Professor Dr. Fábio José Esguícero, em 2023.

Picture of Brenda Campos

Brenda Campos

Economista, Influenciadora, Criadora de Conteúdo e, atualmente, contribuidora no site Mulher na Bolsa. Iniciou sua carreira no Mercado Financeiro aos 16 anos investindo em Tesouro Direto, dois anos depois, fundou o "@falebrenda", um canal nas mídias sociais que busca desmistificar esse mundo e trazer acessibilidade e democratização para todas as pessoas. Também instrui através de palestras de Educação Financeira e Economia, em faculdade, instituições e escolas.

Compartilhe: